As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024 deixaram uma marca indelével na memória dos gaúchos. Com o impacto de eventos climáticos extremos crescendo, a discussão sobre soluções tem ganhado destaque. Uma proposta que surgiu foi a construção de um novo canal na Lagoa dos Patos. Mas, será que essa é a solução ideal? Um estudo recente vem à tona para esclarecer as dúvidas e trazer à luz a complexidade do tema.
“Enchentes” e a proposta do canal na Lagoa dos Patos
A ideia de abrir um novo canal na Lagoa dos Patos para mitigar as enchentes foi amplamente discutida após os eventos de maio. Contudo, a proposta não é nova; ela já havia recebido críticas substanciais de pesquisadores e ambientalistas. Um estudo desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS) trouxe novas evidências sobre os impactos dessa solução.
A pesquisa: custos e impactos ambientais
O estudo, que foi premiado em congressos especializados, revela que a construção do canal seria extremamente cara e traria danos ambientais significativos. O coordenador da pesquisa, Rodrigo Amado, enfatiza que a proposta foi vista como uma “solução mágica” por tomadores de decisão, mas carecia de estudos detalhados. A proposta, que envolveria uma extensão mínima de 20 quilômetros, esbarraria em problemas como a salinização da água, afetando o ecossistema local.
Dados alarmantes sobre as enchentes
As enchentes de 2024 foram as mais severas já registradas, afetando mais de 876 mil pessoas e 420 mil residências, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Esse cenário de calamidade destaca a urgência de se encontrar uma solução eficaz e sustentável para o problema.
O papel do sistema existente
Amado destaca que Porto Alegre já possui um sistema robusto de proteção contra enchentes, desenvolvido após a cheia histórica de 1941. Contudo, a falta de manutenção tem comprometido sua eficácia. A falta de cuidado com as comportas e bombas de drenagem, por exemplo, agravou a situação, levando à ineficiência do sistema durante as recentes enchentes.
Alternativas à construção do canal
Enquanto a construção do novo canal é uma opção em discussão, o estudo sugere que a melhor solução pode estar em investir na melhoria do sistema já existente. A dragagem entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos foi outra alternativa considerada, mas os resultados indicam que essa abordagem também não resolveria o problema de forma eficaz.
A importância da pesquisa na tomada de decisão
A pesquisa não apenas questiona a viabilidade do canal, mas também promove um debate essencial sobre como utilizar os recursos hídricos de forma responsável. O aluno Daniel Maia e a mestranda Roberta Reis, que participaram do projeto, relataram que a experiência de modelar um corpo hídrico tão complexo foi enriquecedora e trouxe à tona a importância de embasar as decisões em dados científicos.
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